MÉSZÁROS, Istvan.
Boitempo, 3ª edição, 2004.
78 páginas
Mara Rubia Aparecida da Silva [1]
Cecídia Barreto Almeida[2]
[1]Mestre em
Educação UFU
orcid id https://orcid.org/0000-0003-4554-5613, email: mararubia470@hotmail.com
² Doutoranda em Educação UFU
orcid id: https://orcid.org/0000-0003-0768-0195,
email: cecidiab@gmail.com
DOI: https://doi.org/10.5281/zenodo.5501981
O livro "A educação para além da capital" Mészáros, permite-nos a
pensar sobre a importância da educação tanto dentro do sistema capitalista e
para a construção de uma ordem alternativa para isso, entendendo que a escola
como instituição, é e sempre foi um dispositivo útil e viável para a manutenção
e reprodução dos interesses da classe dominante burguesa que assegure seu poder
na Modernidade. Tendo em mente, além disso, que é precisamente a escola pública
em linhas gerais, uma invenção desse sistema.
Como o sistema tende a produzir mais em menos tempo, implica incorporar
forças produtivas mais tecnológicas, que a longo prazo simplificam a tarefa do
trabalhador, levando a uma desqualificação do mesmo. Esse avanço tecnológico
que ocorre no campo do mercado de trabalho também afeta, em grande parte, a
função da escolarização, de tal forma que a escola teve que se adaptar a essa
mudança e, assim, modificar algumas de suas formas de educação. O papel da
escola como formadora de cidadãos e pessoas para o trabalho, com a transmissão
de tecnologias para a sua realização, é afetado pelo progresso tecnológico e
pela simplificação do conhecimento para o mundo do trabalho, o que leva a
escola não está mais acostumada a transferir esse conhecimento.
No entanto, apesar de todas essas alusões, isso é inegável que a educação
institucionalizada, especialmente nos últimos cem e cinquenta anos vem tendo
novas finalidades, não só para fornecer conhecimento e pessoal necessário para
a máquina produtiva do capital em expansão, mas também para gerar e transmitir um
quadro de valores que legitima os interesses dominantes.
E como Mészáros aborda em seu livro, a solução para esse problema da
educação na sociedade atual não seria uma reforma educacional, de modo que as
falhas do sistema sejam percebidas por sua natureza, o que seria quase
impossível pensar além dos atores da educação sendo estes os próprios
professores. Uma educação institucionalizada que promulga a igualdade, a
liberdade e a solidariedade como o eixo central em sua função de ensino. A
escola está separada do ensino, seja para educadores ou estudantes, dos valores
e princípios do socialismo que levariam a sociedade a um mundo melhor,
exatamente o que o autor da obra procura, com o qual concordamos.
Grande parte do nosso processo de aprendizagem contínua está fora das
instituições educacionais formais, porque esses processos não podem ser
manipulados e controlados imediatamente pela estrutura formal de ensino
salvaguardados e sancionados por lei.
“Temos de reivindicar uma educação plena para toda a vida, para que seja
possível colocar em perspectiva a sua parte formal, a fim de instituir, também
aí, uma reforma radical” (Mészáros, 2008, p. 55). Este é o caso da consciência
revolucionária. Essa educação é obtida essencialmente fora da escola, e envolve
a erradicação de todas as misérias que são peculiares para o sistema
capitalista, para construir uma nova sociedade, a compreensão das relações
sociais que envolvem a transição da forma como nós vemos o mundo a outra visão.
Por essa razão, para o autor, é necessária uma educação que ultrapasse os
limites do capital, que pontua uma tarefa de transformação social e
emancipatória. Trata-se de criar uma contra-consciência, que é concebida como a
alternativa necessária à internalização colonial dominante. A educação além do
capital aspira a uma ordem social qualitativamente diferente.
Entendemos que na conformação de uma sociedade socialista todos os
indivíduos devem contribuir criativamente; Todos nós temos uma parcela de
responsabilidade social na construção de um mundo mais solidário.
Para o autor, a emancipação do capital, não será alcançada, mas através da
educação, e para derrubar o alienante e ideológica opressão do capitalismo, com
seus dispositivos como a escola institucionalizada, tem que entender a importância
da educação para além da capital, alcançar um socialista, consciência
revolucionária, que vai liderar o mundo no sentido de criar uma sociedade
melhor, igualdade, justiça e fraternidade, superando de uma vez por todas as
misérias que uma vez que estavam sob o regimento da sociedade industrial e
pós-industrial para notícias
A contribuição teórica de Mészáros pode ser interpretada como uma resposta
à profunda crise que o sistema educacional sofre hoje. A educação funciona,
principalmente, como uma estrutura de reprodução do sistema capitalista. A
educação formal atual não tem sido capaz de responder às crescentes demandas
sociais que caem sobre ela.
O livro apresenta um novo caminho, uma alternativa ao sistema capitalista.
Mészáros propõe que a mudança só será possível de maneira radical, e o caminho
só pode ser socialista, porque só o socialismo pode resolver as consequências
da alienação desumanizadora que nossa sociedade experimenta por causa da
estrutura capitalista. Nesse sentido, o autor deixa de analisar várias
experiências socialistas na história, para ver onde elas falharam. O
denominador comum é que essas experiências falharam porque foram realizadas
dentro da estrutura capitalista, ou paralelas a ela, sem resolver as causas
raiz. Assim, por exemplo, o erro do socialismo soviético era autoritariamente
impor um novo sistema, sem convencer a população de antemão, e sem adotá-la
como sua.
Portanto, a segunda tese Mészáros é que a educação deve desempenhar um
papel essencial nesta nova maneira: através da educação que é ao mesmo tempo
individual e social, em que os homens participam de forma criativa e ativamente
na transformação de sua realidade, será possível criar uma consciência
socialista de desenvolvimento contínuo. Esta consciência também deve ser
positiva: não deve ser apresentada como uma negação do capitalismo, porque na
negação o elemento negado permanece sempre.
Por seu turno, a educação desempenha um papel fundamental, uma vez que deve
ser o foco a partir do qual os princípios orientadores de uma estratégia de
mudança social são projetados. Isso quer dizer que a educação deve transformar
o presente e projetar outro futuro, no qual todos os indivíduos possam
participar genuinamente na transformação de sua realidade, na qual sua própria vida
assume significado; outro futuro em que a igualdade é uma conquista social.
Mas para que essa transformação seja viável, é essencial que haja uma
estratégia de mudança, um plano que contemple um propósito específico e no qual
não seja possível liquidar com meias medidas. Segundo Mészáros, o importante
não é se a mudança é feita de maneira súbita ou gradual, mas se é feita dentro
do marco estratégico da transformação estrutural e se atinge todas as
sociedades.
O papel da educação é soberano, tanto para a elaboração de estratégias
apropriadas e adequadas para mudar as condições objetivas de reprodução, como
para a automudança consciente dos indivíduos chamados a concretizar a criação
de uma ordem social metabólica radicalmente diferente (MÉSZAROS, 2006, p. 65).
O livro critica duramente as falhas e hipocrisias do sistema, como o fato
de que a educação capitalista não só cumpre a função de doutrinar os indivíduos
a ordem social é aceito como imutável, mas também que a educação é hoje uma
crise de valores, já que os contravalores prevalecem nela como a supremacia
racial, conceitos como "guerra preventiva" ou imperialismo liberal.
A educação socialista, por outro lado, tem como objetivo primário a
formação integral do indivíduo; isto é, que cada um pode ser criativamente
"como sujeitos autônomos que podem entender e dar sentido à sua própria
vida".
O objetivo dessa educação é que os seres humanos emancipem-se da
contabilidade desumanizante do tempo necessário de trabalho que é imposto aos
indivíduos e que acarreta alienação na sociedade capitalista. Mészáros propõe
como compensação um tempo disponível de trabalho, no qual "os produtores
livremente associados, com seus objetivos conscientemente escolhidos, se controlam,
para os quais terão mais recursos do que uma força de trabalho relutante sob a
imposição de imperativos estruturais. do tempo necessário de trabalho da
capital " Mészáros (2006, p.58)
A educação socialista, não sendo uma imposição, mas uma interação genuína,
melhora a produtividade dos indivíduos, com o que ganhará em um aumento da
riqueza social: isto é, que na maneira socialista, A plena realização do
indivíduo não será quantitativa (acumulação de capital), mas qualitativa. Pelo
contrário, o sistema capitalista opera atualmente através de círculos viciosos
de desperdício e escassez. Para superá-los, é necessária uma efetiva
intervenção educativa que seja capaz de estabelecer prioridades e definir
necessidades reais por meio da deliberação plena dos indivíduos envolvidos.
Como pode ser visto, para o autor, educação e trabalho são inseparáveis. Em
apoio a essa hipótese Mészáros (2006, p. 45) cita Gramsci "[...] que não
há atividade humana da qual a intervenção intelectual possa ser excluída o Homo
faber não pode ser separado do Homo sapiens- (...)". Da mesma forma,
dentro da concepção marxista, ele considera que a transcendência efetiva da
auto-alienação do trabalho é uma tarefa inevitavelmente educativa. Nesse
sentido, Mészáros relaciona os conceitos de universalização da educação e
universalização do trabalho como complementares e necessariamente
inter-relacionados. Para isso, ele menciona como exemplo a experiência cubana
em que a educação sustenta a permanência do modelo socialista.
Ao comparar a educação socialista e capitalista, o autor atribui ao
primeiro a característica de ser perpétuo, de englobar toda a vida, enquanto o
segundo apenas se restringe a um certo período. A esse respeito, não se leva em
conta que o capitalismo atual atribui essa característica da educação
humanista, mas a adaptou à sua conveniência: é inegável que uma educação
perpétua é necessária na sociedade do conhecimento. Mas isso deve ser resolvido
pelo mesmo aluno, que recorre a ele não para formar humanamente, mas para
necessidades pragmáticas. Tecnologia e conhecimento avançam rapidamente, e quem
não os segue, quem não é treinado será deixado de fora do sistema.
O livro não apenas questiona o sistema, mas é também um chamado ao
presente, um chamado aos educadores de hoje, pensando no por que educar?
Queremos perpetuar, inconscientemente, o sistema? É também uma convocação para
todos aqueles que hoje compõem este aparato que é a escola? Nós trabalhamos para o quê? Para
perpetuar o capitalismo?
A mudança deve ser feita "dentro do marco estratégico da transformação
estrutural" Mészáros (2006, p.30). Isso só será verdadeiramente possível
se abranger todas as sociedades e se também for mostrado e demonstrado como a
única alternativa possível ao capitalismo. Com isso, o que o autor afirma não
quer dizer que devemos permanecer estáticos até atingir a totalidade de
mudanças, mas, pelo contrário, "um movimento em direção a uma abordagem
qualitativamente diferente à educação e aprendizagem podem e devem começar aqui
e agora” Mészáros (2006, p.57)
Nesse sentido, o que pretende Mészáros não é impor uma nova estrutura,
sendo esse o erro na União Soviética, mas o diálogo aberto na formação de uma
comunidade socialista, onde todos os indivíduos devem contribuir criticamente.
Todos nós temos uma parcela de responsabilidade social na construção de um
mundo mais solidário.
Referências
MÉSZAROS,
István. A educação para além do capital. São Paulo: BoiTempo Editorial, 2006
(Mundo do Trabalho).