Referência: GBEDEMAH, S.; ZANETI, I. C. A informalidade no gerenciamento de resíduos de equipamentos eletro eletrônicos e a inserção social dos seus catadores em AGBOGBLOSHIE, ACCRA. Fronteiras: Journal of Social, Technological and Environmental Science, v. 10, n. 1, p. 271-298, 3 mar. 2021.

 

 

 

TATIANY MICHELLE SILVA E ALMEIDA

Licenciada em pedagogia e ciências biológicas, mestranda em ensino de ciências ambientais pela Universidade de Brasília e professora, pesquisadora e autoras de temas relacionados as áreas de educação , educação ambiental e educação inclusiva.

ORCID: http://orcid.org/0000-0002-8428-0630

E-mail: tatyalmeidaesilva@gmail.com

 

 

DIRCEU MANOEL DE ALMEIDA JUNIOR

Licenciado em pedagogia e história , mestre em direitos humanos e cidadania pela Universidade de Brasília e professor, pesquisador , autor sobre temas como: formação de professor, educação e educação em direitos humanos.

ORCID: http://orcid.org/0000-0002-3268-6671

e-mail: dirceujunior2014@gmail.com

 


DOI: https://doi.org/10.5281/zenodo.5501985

 

O autor do artigo é Stephen Edem Gbedermah que é mestre em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília (UnB) e a coautora é Izabel Cristina Bruno Bacellar Zaneti professora associada do Centro de desenvolvimento Sustentável da UnB, doutora em Desenvolvimento Sustentável e pesquisadora e autora nas áreas de:  resíduos sólidos, educação ambiental, educação e saúde coletiva, sustentabilidade e gestão ambiental.

O artigo resenhado apresenta uma pesquisa realizada no lixão na cidade de Gbogbloshie – Accra capital de Gana (África Ocidental), sobre as condições  sociais e de trabalho dos catadores de resíduos equipamentos eletrônicos (EEE) dessa região. Essa pesquisa está estruturada de forma exploratória e descritiva, tem uma abordagem quantitativa através da tabulação dos dados de um questionário e qualitativa através dos conteúdos descritos por alguns entrevistados.

Como procedimento de coleta de dados utilizou–se um questionário socioeconômico com os catadores do lixão; uma entrevista semiestruturada com coletores de sucata, revendedores, um diretor de uma divisão de uma associação de gerenciamento (Assembleia Metropolitana de Accra) e um coordenador de uma fábrica local de reaproveitamento desses resíduos. O pesquisador ainda apresenta dados de uma observação participante dentro desse espaço, que ele descreve através de imagens e minuciosas descrições das condições desses locais, sendo essa uma das partes mais interessantes desse trabalho.

Esse ainda apresenta uma estrutura bem dividida e organizada, algo que nos chama bastante atenção, assim como sua abordagem contextualizada entre leis, costumes e organização de associação e de catadores, bem exemplificada entre Gana e o Brasil. 

Para iniciar o autor nos aponta como a coleta de resíduos sólidos urbanos ocorre nesse território, que pode ser em domicilio ou levado até contêiner em área pública e que ambos os sistemas de coleta têm valor de tarifado e pago diretamente pelo cidadão, o que difere bastante de nosso sistema (que tem essas tarifas embutidas nos impostos). Mas que esse sistema não é o único responsável pela elevação dos EEE nesse país e nem do aumento do lixão de Agbobloshie; que esses fatos são decorrentes também da importação de eletrônicos como: computadores e eletroeletrônicos, de segunda mão de países desenvolvidos. 

O que proporciona o acesso da população a equipamentos eletrônicos e em contrapartida aumenta o nível desse tipo de resíduos também, algo que deve ser bem analisado antes de qualquer posicionamento de ideias. Já que o serviço informal de catadores e demais profissionais que atuam no segmento da reciclagem desses materiais, promove renda (mesmo que em grande parte de subsistência), proporciona emprego para uma parte da população sem capacitação e formação escolar e retira do meio ambiente materiais nocivos.

Ambientalmente, economicamente, socialmente e termos políticos (de governança local) o trabalho com os materiais tem sim seus benefícios, porém Gbedemah nos evidencia que essa “benesse” traz consigo inúmeros prejuízos ambientais – já que eleva a quantidade de produtos na atmosfera através da queima desses para extração de outros materiais como metais pesados; econômicos – pois centraliza nas mãos de poucos o ganho financeiro real e os trabalhadores mesmo não conseguem se beneficia economicamente por todo o esforço que têm e faz; socialmente – gera a desigualdade social que se estrutura com moradias precárias em favelas , a não formalização de suas horas de serviço e com isso a falta de direitos previdenciários e de assistência médica de qualidade.

Já sobre a ação política – o texto nos apresenta uma ação de omissão desses trabalhadores e dos serviços prestados por eles, fato que é reforçado desde o tratamento que esses têm nessa sociedade até a sobre a regulamentação de sua profissão, algo que não veio com a nova lei de gerenciamento e controle dos resíduos, ampliando a obscuridade e “perversidade” dessa profissão.  Elevando seu laboro a uma condição obscura, marginalizada e com isso sua vulnerabilidade de exploração e perpetuação de um ciclo de exploração.

Algo que fica muito evidente nos dados que foram levantados nos questionários que o pesquisador utilizou, na busca de informações sobre a situação interna desse lixão. Que concentra em sua maioria homens na faixa etária entre 18 a 29 anos, grande parte casados, de religião mulçumanos, com escolaridade até ensino superior (a maioria até o fundamental), boa parte frequentam esse espaço há mais de cinco e que muitos tem essa profissão como forma de se manter e sustentar a família, mas que alguns tem como complementação de renda e que fatores como flexibilidade de horários e renda os impulsionaram a escolha desse ofício. 

O autor ainda nos aponta algo que já poderíamos imaginar em um local como esse que há trabalho infantil, mas que na pesquisa não pode ser evidenciado devido a uma questão de ética acadêmica. Ele aponta outros fatores que nos desperta bastante interesse, sobre a escolarização desses catadores que chega até o Ensino Superior, que esse tipo de trabalho é visto por muitos deles como uma forma de empreendedorismo e melhoria de renda, que mulheres nesses espaços não fazem o trabalho manual (são prestadoras de serviços de vendas), que socialmente esses trabalhadores são rechaçados pela população local , porém apesar de muitos percalços no exercício dessa atividade a maioria deles têm a consciência da importância ambiental de seu trabalho.

Fato que é evidenciado nas entrevistas realizadas pelo pesquisador. No mais essa leitura nos leva a atravessar as fronteiras territoriais de nosso país, até Gana. Com uma riqueza impressionante de detalhes e descrições da realidade social desses trabalhadores. A recomendamos a todos que se interesse sobre a temática e que tenham um foco sobre a visão dos Direitos Humanos - aspecto que sutilmente o texto nos traz, por meio da reflexão de questões locais (nacionais) e internacionais sobre as condições de vida de muitos de nós , que é um contraponto a modernidade que acreditamos viver.