Caleb Benjamim Mendes Barbosa
Roteirista, Mestrando em
Teoria Literária pelo Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade
Federal de Pernambuco (PPGL-UFPE) e Bacharel em Cinema e Audiovisual pela mesma
instituição. É pesquisador Bolsista CNPq do Núcleo de Estudos em Literatura, Memória
e Imaginário (NULMI), vinculado ao Núcleo de Pesquisa DERIVA; e do Grupo de
Estudos em Literatura, Subjetividade e Forma, vinculado ao Núcleo de Pesquisa
em Literatura Brasileira. E-mail: caleb.benjamim@ufpe.br
Resumo: A pesquisa se propõe a
investigar o barroquismo na obra “O Bandido da Luz Vermelha” (1968) de Rogério
Sganzerla, e suas afinidades eletivas com o pensamento antropofágico de Oswald de Andrade (1928). Sganzerla e Oswald, cineasta e
escritor que em
momentos distintas, mas obsedados pelas mesmas questões, apontaram caminhos
semelhantes para os problemas culturais do vínculo colonial com as antigas e
novas metrópoles, e a formação identitária de povos descolonizados. A partir
das ideias de Paulo Emílio Salles Gomes, em “Uma Situação Colonial?” (1960), e
da noção de poética da emulação, de João Cezar de Castro Rocha (2017), percebemos, ainda, como o filme de Sganzerla propõem no campo estético não
apenas uma crítica ao modo com que se constituíam as cinematografias nacionais, mas antes uma reflexão acerca de
dispositivos narrativos suficientes e capazes de
dialogar com a tradição colonialmente herdade, e não obstante, configurar um
impulso singularizador, que mimetizem realidades assimétricas e contextos
não-hegemônicos. Assim, valendo-se das categorias operativas do neobarroco,
descrita por Severo Sarduy (1979), das características da Forma Shandyana elencadas por
Sergio Paulo Rouanet (2007) e do famoso estudo de Ismail Xavier (1ed. 1993),
procuramos demonstrar como na narrativa fílmica de Sganzerla dá-se, em última análise, uma
prática poética daquilo que Lezama Lima (1988) chamará de arte da contraconquista. Ou seja, a
afinidade eletiva entre o poeta cubano e o pensamento antropofágico oswaldiano da poesia
de exportação, segundo o qual a literatura dos trópicos, produzida à margem,
marginalizaria a literatura canônica e canonizada, ao influenciar esse outro
por quem fomos, involuntariamente, influenciados. Logo, ao transformar a alteridade em forma narrativa o filme
de Sganzerla também altera seu
doador, não apenas o receptor seria transformado, mas a fonte concessora tem seu estatuto problematizado, sua autoridade e
força desnaturalizados, e sobretudo, sua tradição apoucada, ressemantizada e
reinventada à luz da obra que engatilha essa transculturação. Lançado em um
contexto de modernização da linguagem cinematográfica e no cerne do debate
sobre a emancipação da situação colonial do cinema brasileiro, “O Bandido da
Luz Vermelha” redimensiona, desta maneira, a problemática da constituição
identitária dos cinemas latino-americanos – ao propor o Barroco Antropofágico
enquanto alternativa viável, que coloca em outro diapasão a velha relação de dependência
cultural dos povos descolonizados –;
além do próprio conceito de Barroco – enquanto forma sincrônica e
intersemiótica atualizada às demandas e contingências de contemporaneidades e
contextos distintos.
Palavras-chaves: Identidade. Cultura. Pós-colonialidade. Antropofagia. Barroco.