DOI: 10.5281/zenodo.7514388

 

Ronilton Bruno Nobre Honorato

Graduando em Direito[1]

 

Leonísia Moura Fernandes

Doutoranda em Direito[2]

 



[1] Bacharelando do curso de Direito pela Universidade Federal do Acre (UFAC) – campus Floresta. E-mail: rbrunonobre@outlook.com

[2] Professora de direito na Universidade Federal do Acre (UFAC), campus Floresta. Mestre em Ciências Jurídicas pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Doutoranda em direito na Universidade de Brasília (UnB). E-mail: leonisia.mouraf@gmail.com


RESUMO

O estado do Acre tem registrado o maior número de feminicídios durante três anos seguidos: 2018, 2019 e 2020 em que se faz necessário refletir acerca de suas características próprias para entender essa realidade. Além disso, ocupa posição descentralizada dentro do sistema de produção capitalista e secundária nas discussões sobre políticas públicas, violência e gênero, alargando a distância geográfica e social do restante do país. Ademais, a história da região acreana perpassa, ainda, as demandas imperialistas pela borracha, os fluxos migratórios problemáticos e a realidade das mulheres marcadas por atravessamentos específicos. Em decorrência disso, a presente pesquisa tem o fito de contribuir na construção de um modelo interpretativo interseccional para a compreensão dos feminicídios em Acre. Haja vista que os estudos sobre violência de gênero vêm ganhando espaço no Brasil, no entanto, as análises ainda são realizadas a partir das dinâmicas dos centros urbanos, sendo que o feminicídio na região amazônica do país possui características próprias. Assim, é de extrema importância uma abordagem interseccional dos casos pelo entrelaçamento entre classe, raça, gênero e relações regionais. Dessa maneira, é adotada uma metodologia de cunho bibliográfico e documental, com natureza exploratória e que leva em consideração os seguintes elementos: o contexto em que o documento foi produzido, a autoria, a autenticidade e a natureza jurídica do texto. Outrossim, foi possível estabelecer a discussão das mortes violentas de mulheres acreanas a partir do documento de sentença do caso de M.F.C., mulher não-branca, pobre, ribeirinha, sobrevivente de uma tentativa do crime de feminicídio, julgado em 2020 e ocorrido em uma comunidade rural de Cruzeiro do Sul. Esse caso é fundamental para extrair as interseccionalidades necessárias e explorá-las nos contextos acreanos e nas relações humanas estabelecidas no coração da floresta amazônica. Para tanto, a categoria da interseccionalidade é aqui mobilizada a partir da teoria feminista da reprodução social. A complexidade da pesquisa desenvolvida de forma PIBIC levanta questões que atravessam demandas para além do gênero da vítima. Desse modo, tratar de violência contra mulheres exige considerar as formas de opressão que as atravessam, considerando a peculiaridades na forma de viver, existir e resistir dessas mulheres.

Palavras-chave: Feminicídio, Direito e Gênero, Interseccionalidade, Feminismo da Reprodução Social.